“O eleitor deve apostar no novo”, disse Marilda Ribeiro
Candidata ao Senado diz que a eleição é uma “grande farsa”; campanha eleitoral está orçada em R$ 300
Com a proposta de defender os movimentos sociais e a participação popular no poder, e com campanha orçada em R$ 300 até o momento, a candidata ao Senado Marilda Ribeiro (PSOL) critica os outros concorrentes a cargo eletivo e a forma como arrecadam valores para as campanhas. Ela se diz uma “nota musical desafinante” que pretende ocupar uma cadeira como senadora para promover uma reforma política no país. E pede para o eleitor “apostar no novo”.
Marilda Ribeiro ainda critica as pesquisas eleitorais e diz que o eleitor não pode se deixar levar por índices que não representam a realidade.
Perfil
Marilda Terezinha da Silva Ribeiro Fonseca
46 anos
Advogada
Natural de Indianópolis
Disputa eleição pela primeira vez
CORREIO: A senhora disputa, pela primeira vez, um cargo eletivo. Por que o eleitor deve votar em Marilda? O que pretende defender ou apresentar?
Olha, eu não diria que o eleitor deve votar em Marilda, mas o eleitor precisa votar em mim se quiser apostar em uma mudança real e qualitativa de uma atuação política diferenciada. O eleitor tem que realmente apostar no novo. E apostar no novo é apostar no PSOL, um partido socialista que luta pelo socialismo com liberdade e fundamentalmente com a participação popular. Nenhum dos candidatos que estão aí, Aécio, Itamar ou Pimentel, representam esse compromisso com o povo trabalhador. Porque candidatos financiados por grandes grupos econômicos como bancos, mineradoras e empreiteiras jamais terão compromisso com o povo trabalhador.
Como convencer os eleitores?
Convencer os eleitores é nesta batalha. Demonstrando como é antidemocrático o processo eleitoral, quando nos dá tempo tão diferentes, tão pequenos para a gente expor nossas ideias. E convencer este eleitor é principalmente fazê-lo ver que o que se vende nas eleições é apenas forma, não é conteúdo. Não se discute conteúdo que interessa para a classe trabalhadora.
Infelizmente, neste momento eu passo por questões pessoais difíceis na recuperação da saúde do meu marido João Batista (da Fonseca), presidente do PSOL em Minas Gerais, recém saído de um CTI (Centro de Terapia Intensiva). Com isso eu não pude estar, como eu sempre estive, desde a minha adolescência, junto ao povo trabalhador e nos movimentos sociais da forma que eu queria estar. Neste momento eu estou muito dividida, porque tem essa questão pessoal e tem as eleições.
Eu tenho certeza que as eleições estariam neste momento em um outro debate. Mas daqui até 3 de outubro tem muito tempo. E não acredito que o eleitor vai se deixar levar pelo embalo das pesquisas eleitorais. Hoje é muito fácil dar um “tchauzinho” na televisão, abraçar pobre no meio da rua – gente que nunca abraça pobre de jeito nenhum. O povo está tão carente, tão necessitado, que muitas vezes se deixa iludir por isso daí.
Como conciliar este problema familiar com a campanha?
Eu tento conciliar como dá, fazendo o que eu sempre fiz no movimento social. Sou militante do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade, sou advogada de movimento social há mais de 22 anos. Atuo em pastoral da Igreja Católica. E é neste meio que a gente conversa. Fazendo o que eu faço, trabalhando. Porque ao contrário dos outros eu não parei de trabalhar. Como a maioria do povo brasileiro, eu sou essa periferia. Que também trabalha dia-a-dia para poder se sustentar. Eu não tenho banco, nem mineradora, nem empreiteira me financiando. Então a gente concilia da forma que sempre foi: trabalhando.
São 2 vagas para o Senado. A senhora tem 1% nas pesquisas de intenções de voto a aproximadamente 15 dias das eleições. Acredita que possa melhorar este índice para ser eleita ou dar visibilidade, com sua candidatura, a uma próxima eleição?
Eu estou pensando nas eleições de agora. Esse 1% é segundo o Ibope em uma pesquisa do dia 3 de setembro. Então, é uma pesquisa que não é recente. Eu estou em quarto lugar, e não em sexto como foi divulgado. E não representa de forma nenhuma quando você faz uma pesquisa por segmentos. A mulher eleitora em Minas Gerais é mais de 50% dos votos do estado. E eu posso contar com este voto. Nós temos tempo daqui até o dia 3 de outubro e eu não estou participando desta campanha pensando na próxima.
Aliás, o processo eleitoral, como à maioria do povo brasileiro, me irrita profundamente ver essa farsa montada. Aí você poderia me perguntar por que eu participo desta farsa. A gente participa do processo eleitoral porque nós, como movimento social, temos que dar alternativa para os trabalhadores. Não dá pra seguir votando nesses que estão aí há décadas, há 500 anos explorando o povo brasileiro. Então eu participo desta eleição. Não sei se participarei de outra. Eu gosto muito de atuar no movimento social. Vejo a política partidária não como essencial e prioritária. Eu vejo-a como parte deste processo amplo, que precisa educar o povo brasileiro. Infelizmente, não democratizado como precisava ser.
Como concorrer com outros candidatos com maior verba de campanha e também em experiência política?
Concorrer com eles seria dizer uma mentira. Concorrer com quem é financiado por bancos, eu repito, mineradoras e empreiteiras. Essa gente conta com muito dinheiro. É Pimentel, Aécio e Itamar. Basta entrar no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e verificar quem são os grandes doadores das campanhas destes candidatos que estão à frente [nas pesquisas]. Então, eu diria o seguinte: na raia que eles correm nós não corremos. A gente não está concorrendo na eleição que eles estão concorrendo. A gente aproveita o processo eleitoral e concorre em outra raia.
Na raia que interessa ao povo trabalhador, os milhões de excluídos neste Brasil que só são lembrados em época de eleição. Eles já estão aí se julgando eleitos, já comemorando. Isso é um desrespeito. Se dão ao luxo de não participar sequer de debates, quando você tem a oportunidade de tempos iguais. Eles não vão se achando eleitos. O povo brasileiro e o povo mineiro deve dar uma resposta a este tipo de candidato, que não representa os seus interesses, que só lhes dá abraço em época de eleição. Isso é de enojar. Eu fiquei 33 dias em frente ao hospital João XXIII no mês de julho, durante o processo de internação do meu marido, enquanto eles corriam aí com os milhões dos bancos e mineradoras. E ali tem tanto pobre precisando de abraço, tanta gente precisando de socorro. E não tem.
Um jornalista me perguntou por que o meu partido tinha me escolhido, já que eu estou na periferia e não no centro do estado. Justamente por isso. Eu represento a periferia, tanto dos grandes centros como a de todo o estado. O Triângulo Mineiro, o Alto Paranaíba, que sempre estiveram à margem da política que se diria maior. Lá no Senado, que representa os interesses da oligarquia, os interesses dos grandes deste estado, uma nota ‘desafinante’ como eu deveria estar. E eu conclamo ao povo desse Triângulo Mineiro a me eleger. Para dar um basta nesta história de que já está eleito porque pesquisa eleitoral que registra o momento acaba fazendo o povo entrar nesta onda.
Sua candidatura é para dar visibilidade ao partido?
Com certeza. O partido é novo. O PSOL tem esse compromisso com a classe trabalhadora. Eu venho de uma atuação partidária no Partido dos Trabalhadores. Não me deixei envolver por todo o processo de desvirtuamento das bandeiras que a gente levantou há mais de 20 anos. E a gente acreditou que tem que seguir nesta luta. De apostar em uma ferramenta de opção, alternativa mesmo, para os trabalhadores. E o PSOL é isso. Partido que se constrói em cima do compromisso com a classe trabalhadora. Não nos interessa os acordos com os grandes de sempre, que estão aí explorando o povo há tantos anos.
A senhora defende os Movimentos Sociais. No Senado, continuará com esta defesa?
Com certeza. A minha principal bandeira no Senado é da participação popular de fato. Nada se pode fazer neste país sem consultar o povo. Os interesses, a prioridade do orçamento, um orçamento que realmente fosse voltado para o interesse desse povo. Em relação à saúde, à educação, segurança. Temas que são levantados a cada eleição. E que nunca mudam. Não mudam porque o interesse dos grandes vai contra tudo isso. Então no Senado a bandeira principal que eu levanto é essa de participação popular, de Congresso do povo.
Este país só vai mudar de fato com a participação de um povo consciente do seu papel. Voto não se vende. É preciso dar um basta no poder econômico nessas eleições. O que define uma eleição, que a gente está vendo aí, é o poder econômico. Quem é que elege este povo que está aí, se não são os poderosos e as grandes empresas, os ricos e poderosos? Então no Senado eu vejo assim. E que esse Brasil precisa muito de uma profunda reforma política. Não essa, que eles que estão aí do outro lado estão dizendo.
A senhora espera no dia 3 de outubro ser eleita senadora?
Com certeza. Tem muito tempo daqui até lá. É por isso que eu encaro como muito importante este momento desta entrevista. Porque isso, em um tempo e espaço igual, a gente tem condição de falar o que pensa. Ao contrário da propaganda eleitoral gratuita, que é vender forma e não vender conteúdo. Imagina se em 20 segundos que eu tenho na televisão eu tenho condições de falar tudo isso aqui que eu estou te falando. Então eu considero muito importante um espaço democrático como esse.
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Marilda: "Como a maioria do povo brasileiro, eu sou ...
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